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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2012

digo-te até amanhã

[o poema de António Lobo Antunes que encontrei num blog e publiquei no hálito azul da tarde...não me sai da cabeça...escrevi este, inspirado no anterior de uma forma absolutamente descarada mas ainda assim humilde] não disse nada amor, disse apenas até amanhã! digo-te até amanhã, porque à noite todas as promessas são trémulas mas ainda assim o coração sossega, ele sossega não sei porquê, mas à noite não procuro razões. não disse nada amor espero apenas pela manhã, e estou cansada porque de noite os caminhos não têm fim e eu nunca chego onde devo, nunca chego a ti, nunca chego onde preciso, não disse nada amor, disse apenas até amanhã! digo-te até amanhã.

entre nós

entre nós as palavras e dentro de nós uma surdez, entre nós a densa negrura de muitas noites, e uma chuva dentro de nós a encher-nos os pulmões, entre nós um único fôlego de pele a consumir, e dentro de nós a clara chama que nos acende, entre nós a dúvida que cai dos lábios, e nada dentro de nós que a dissipe, entre nós o eco dos teus dedos, e dentro de mim apenas luz, entre nós eu estou aqui, eu estou aqui como se estivesse dentro de nós.

habitas-me sem eu querer

habitas-me sem eu querer, e sem te querer perder quero tornar infinito o instante mais breve da minha vida. sou metade de mim, metade vazia, metade tóxica, metade que ainda espera, metade consagrada ao meu medo e ao teu fim. só eu sei que exististe, e que depois tudo mudou. e perco-me. perco-me no espaço miúdo e deserto, na crueza da tua inexistência.

sinto delicadamente o ressentimento

sinto delicadamente o ressentimento dessa ausência que te traiu. a distância que consentiste prolongar e transformar em esquecimento, a distância tecida de silêncio, essas linhas de tempo impronunciável. estou nesta manhã, ausente e longe do centro, na fronteira amena do coração. vejo pássaros de asas azuis, asas escuras e notívagas, que deixam cair as tuas últimas palavras escritas, que te espalham à minha volta e depois partem de regresso aos seus lugares, e com as asas desenham linhas de horizonte onde deverias surgir, mas apenas uma sombra morna te denuncia, e nada nela revela a intenção da tua volta. sinto delicadamente o ressentimento dessa ausência que te traiu, e se não foi acaso ou circunstancial encontrar-te antes, se não é abstracto o nosso entendimento, preciso então da mensagem escondida que esta manhã parece guardar, uma palavra sem promessas e sem recomeço, que me traga de volta e me alimente.