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A mostrar mensagens de 2018

Reduz-me ao tamanho das tuas mãos

Reduz-me ao tamanho das tuas mãos,  e que os silêncios que nos prendem, soprem a poeira do caminho.  Aperta-me no círculo perfeito do teu olhar para que, ao perder-me no mundo, possa seguir a luz que madruga nas nossas memórias. Cinge-me no alvoroço do teu sorriso, e que a tua boca, nas palavras que desenha e canta, comande o sangue que se abeira do coração. Cura-me com o teu sereno respirar, porque assim nos consagramos, assim ardemos, assim consistimos.  Embrulha-me agora, como antes, na pele quente do teu corpo, para que a vida possa ser apenas isso, e tudo isso. Poema escrito para a São e para o Armando, inspirado pela celebração das suas bodas de ouro.

Fragmento.1/2

Dentro daquele momento peculiar quis não ser ele. Quis enterrar esse outro por entre a finura da areia. Adormecê-lo no grão das imagens que se revelavam na tibieza da tarde. Mas o fim deste dia estava contaminado e arranhava a sua pele com uma dureza de cores singulares. Mexe-se e respira profundamente até quase extinguir todo o ar que ainda lhe pertence. Precisa romper com a linha que se desenha à sua frente. Dirimir a ameaça. Dá então alguns passos pelo paredão. Sente o corpo das pedras encostado à borracha gasta dos ténis. As arestas gastas das pedras da calçada, daquele paredão, que brilham indulgentes aos seus passos e magoam delicadamente os seus pés. Caminha vagarosamente, esperando que esta demora o devolva à sua espessa solidão. Esse estado notável e excêntrico que desde cedo teceu, alimentou e conservou.

Fragmento.1/1

Nunca quisera voltar àquele lugar. Odiava regressos. Mas a vida puxara-o, em cada momento seu de distração, e há muito que deixara de estar atento e seguro. Ali estava agora nesse presente sem sentido algum, naquela beira-mar acumuladora de memórias. Apenas ali as imagens persistiam. Apenas ali. Quase imaculadas. Depostas. Sagradas. Como uma armadilha.