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A essência dos dias.1

Comove-me um casal de namorados que encontro por vezes em Algés...ele vem com ela até à estação. Param perto das portas de acesso à gare. Dão um primeiro beijo mais efusivo. Parece que estão a ouvir uma música só deles. Depois conversam um pouco. Dão mais um beijo e abraçam-se...de olhos fechados, tão apertados. Beijam-se de novo. Ela passa para o outro lado. Dizem adeus e desenham corações com as mãos. Ela diz ainda que lhe telefona quando chegar a casa.
Percebemos que são duas pessoas diferentes e essa circunstância, que em tantos momentos certamente os limita, ali, no amor, torna-os mais livres e belos.

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Caminham agarradas pelas mãos. De mãos dadas. Enormes na sua tenra idade. Juntas na multidão que sai do comboio. Caminhamos juntos! Sobem a rampa a espalhar esse amor. O seu amor! Paixão! O amor que lhes pertence. O amor que agora vemos. Elas, e eles, e nós todos visíveis. Vemo-nos! Iguais. Iguais a mim! Iguais para todos?...Talvez ainda não...plenamente...mas estamos tão perto! Bendito dia! Bendita manhã inundada de esperança e luz! Bendito final de setembro.  O Sol e a alma vibrantes, neste instante feliz plantado no horizonte.

Fragmento.2/1

Senta-se à mesa da cozinha depois de aumentar um pouco o som do rádio. Raramente liga a televisão. Há algo que se perde das imagens e escava dentro de si um imenso vazio. Ela não sabe depois como o preencher. Serve-se então, apenas, do som. As vozes. As conversas. A música. Começa a dobrar a roupa interior e o seu gato Alberto salta para a mesa e acomoda-se por entre as meias. Olham-se. Ajeita o cabelo instintivamente quando uma ou outra canção tocam no rádio. Afaga-o junto ao pescoço, em redor das orelhas, e por fim encosta levemente alguns cabelos dispersos da sua franja com o dedo médio da mão direita. Parece que executa um código secreto, ou um pedaço de dança, que a devolve generosamente ao passado.