Avançar para o conteúdo principal

Outro ser, outra de mim

O vislumbre de ti ficou para trás com o arrasto da tua cor
mesmo depois do comboio partir,
e do timbre alterado do teu adeus a minha saudade evade-se.

depois mesmo de retomar a vida
ainda o tremor do chão se aquieta nos meus pés,
e partes de mim seguem outro caminho, pequenos animais rastejantes,
embriões que sossegam como sementes suspensas na claridade do dia.

sou outro ser, outra de mim

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Oiço o carpir do tempo no meu encalce

Oiço o carpir do tempo no meu encalce, enquanto corro a iluminar os últimos quartos.

A essência dos dias.3

Caminham agarradas pelas mãos. De mãos dadas. Enormes na sua tenra idade. Juntas na multidão que sai do comboio. Caminhamos juntos! Sobem a rampa a espalhar esse amor. O seu amor! Paixão! O amor que lhes pertence. O amor que agora vemos. Elas, e eles, e nós todos visíveis. Vemo-nos! Iguais. Iguais a mim! Iguais para todos?...Talvez ainda não...plenamente...mas estamos tão perto! Bendito dia! Bendita manhã inundada de esperança e luz! Bendito final de setembro.  O Sol e a alma vibrantes, neste instante feliz plantado no horizonte.

Fragmento.2/1

Senta-se à mesa da cozinha depois de aumentar um pouco o som do rádio. Raramente liga a televisão. Há algo que se perde das imagens e escava dentro de si um imenso vazio. Ela não sabe depois como o preencher. Serve-se então, apenas, do som. As vozes. As conversas. A música. Começa a dobrar a roupa interior e o seu gato Alberto salta para a mesa e acomoda-se por entre as meias. Olham-se. Ajeita o cabelo instintivamente quando uma ou outra canção tocam no rádio. Afaga-o junto ao pescoço, em redor das orelhas, e por fim encosta levemente alguns cabelos dispersos da sua franja com o dedo médio da mão direita. Parece que executa um código secreto, ou um pedaço de dança, que a devolve generosamente ao passado.