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Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

Por ora, apenas os ramos batem nos vidros da janela

Por ora apenas os ramos batem nos vidros da janela. é tarde nesta véspera de natal, a noite adensa-se, o mundo recolhe-se como pode e os sons ensurdecem na terra fria, mas a promessa da tua vinda é certa, a minha memória é verdadeira e isso basta-me. tudo me diz que é tarde nesta véspera de Natal, e por ora apenas os ramos batem nos vidros da janela. neste tempo liminar, esgota-se o rasto do dia que acabou, a luz escorre pelas pedras velhas do caminho e não te oiço ainda nesse rio por onde vens, mas o meu coração contrai-se, eu espero-te, tanto, e isso basta-me! é noite de natal, os ramos cantam nos vidros da janela és tu?... és tu! só amor, só amar, isso basta-me.

Grito pelo silêncio que preciso

Grito pelo silêncio que preciso, pelas feridas abertas no escuro e pelos dias que não passei contigo. Grito por precisar de ti em silêncio.

Tão pouca luz no quarto

Entra tão pouca luz no quarto, o ocre antigo das paredes desliza pelo chão e despe-se nas minhas pernas, não sei se o sol nasce ou morre, porque no meu corpo indecifrável o mundo parte devagar, e os sons para trás acomodam-se no meu ouvido como finos vapores húmidos. sem dia, sem noite, apenas as horas ficam, e o meu peito adormece.

Cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço

Cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço, nas minhas mãos tenho os teus ombros, envoltos em pele, inesperados, nas tuas costas o mundo silencia e trago-te à vida, as minhas mãos são um berço de intenções assimétricas e perfeitas, e quando os segundos se adensam no perímetro desconcertante do teu olhar, o instinto demora-me, como duas ilhas os meus joelhos nascem e afastam-se desafiando o suor frio da solidão, desalinhando os braços num rasto de palavras desacordadas, cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço, mas sobra-nos espaço, sobra-nos amor...

Saberás por acaso que a praia está vazia

Saberás por acaso que a praia está vazia e as ondas já não quebram perto dela, que nos imagino aqui à superfície, corpos exilados à procura de água doce e o sal a estilhaçar na pele, a traçar caminhos, a deixar rasto, segue-me porque há ondas que rebentam na minha boca, há guitarras e canções e correntes de ar que explodem como estrelas no meu corpo, olha a praia azul e serena onde a água se deita como uma pequena deusa cansada no final da tarde, podíamos ser como ela e podíamos ficar, podemos ser cúmplices, poderíamos amar, e quereríamos sofrer, saberíamos mudar, mas saberás sequer que aqui estamos mesmo quando nos olhas, que o mundo por instantes é belo e perfeito que há silêncio e que a noite se atrasa quando nos vê, que há um significado invísivel nos teus gestos, cheiros que se revelam como fotografias, memórias que nos habitam como um vírus, não há palavras pousadas na minha língua, há expectativas espalhadas por tanto mar, por isso te vigio, ser estranh

Manhã fria e cinzenta de tão vazia

A manhã está fria e cinzenta de tão vazia, ninguém me vê no mar tão macio, tão pequeno ao meu redor e tão cheio de mim, espero as horas que chegam, e partem, e voltam parecem-me mulheres perdidas, desamadas, loucas, cheias de silêncio levando as marés, não ficam, não vou ninguém é meu, ou minha, não há histórias, não há memórias, não há cheiros, não há canções, não há paredes manchadas, nem roupas estragadas, não há flores no jardim, não há passos junto à porta, não houve início, não há fim, não há cama para fazer, nem mesa, nem janela para abrir, nem livro pra fechar, há um vazio que não é possível, um desejo que não cresce há uma dor que não mata

És um pequeno animal de papel nas minhas mãos

Desenhas-me com as tuas palavras enquanto me olhas e ficas depois como um pequeno animal de papel nas minhas mãos. Escreves-me e o som vibra dentro de mim. Cheiro-te, procurando as impressões dos teus dedos, o relevo das tuas linhas, e nesse caminho de sobressaltos olhamo-nos. Há um instante puro e esmagador que nos transforma, um labirinto que nos tenta, uma palavra que nos esmaga.

O pequeníssimo alfinete de metal

o pequeníssimo alfinete de metal entrou finalmente na estreita e desconhecida veia e percorreu cioso todo o corpo disponível. nada foi esquecido ou negligenciado. toda a dor, da mais estreita e fina, à mais gloriosa e esmagadora, foi testada, experimentada absorvida, e finalmente no último dia, na última página, o alfinete e o corpo atormentado uniram-se num só elemento, etéreo, porém obscuro.

Acabei de retirar toda a minha pele e ofereço-ta

Acabei de retirar toda a minha pele e ofereço-ta. Para ti com amor e com palavras doentias, E com a dor que me enlouquece, O vómito e a palidez. Para ti meu amor , tudo o que foi teu e já não quero para mim, todo o sangue que bebeste e os sentidos que cegaste. Para ti amor, o meu sorriso rasgado, as minhas unhas partidas, os meus cabelos entrançados nos teus dedos. Estarei à tua frente para sempre, meu amor, e com todo o meu amor , a minha alma pesada e doce roubará a cor da tua carne.

Só, silêncio e solidão, sempre

Só, só, só, só, sempre, solidão, sempre, só, só, só, tão só, eu sempre, silêncio e solidão, sempre, só sempre, eu tão só.

Há manhãs que nos acordam como um baptismo

Há manhãs que nos acordam como um baptismo, a luz não acaba, o suor é eterno.