Avançar para o conteúdo principal

Cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço

Cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço,
nas minhas mãos tenho os teus ombros,
envoltos em pele, inesperados,
nas tuas costas o mundo silencia
e trago-te à vida,

as minhas mãos são um berço
de intenções assimétricas e perfeitas,
e quando os segundos se adensam no perímetro
desconcertante do teu olhar, o instinto demora-me,
como duas ilhas os meus joelhos nascem e
afastam-se desafiando o suor frio da solidão,
desalinhando os braços num rasto de palavras desacordadas,


cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço,
mas sobra-nos espaço,
sobra-nos amor...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uns cegos, outros surdos

gritas, gritam até que o outro ensurdeça,  até que fique com os pés presos na lama e se esgote. gritas, gritam palavras e frases de uma ordem estéril que nos matará. rasgam os pulmões com cânticos, alucinados,  com uma narrativa estúpida de quem nos crê estúpidos...e seremos? rangem os dentes,  soltam os caninos e farejam a hesitação com o dedo no gatilho, lambem-nos o medo na pele... abrem as gargantas de onde saem línguas como canos apontados ao nosso cérebro,  línguas sibilantes num hálito de enxofre, numa infindável oratória que nos queima a pele, nos rompe a mente. destroem o silêncio. gritam que somos vítimas,  as suas vítimas,  as legítimas,  enquanto desviam o olhar e fecham as órbitas embaciadas para que a realidade não os capture. gritam, gritam e gritam pois enquanto gritam não param,  não pensam, não deixam que ninguém pare, e ninguém pensa. embalam os corações nas bandeiras e nos hinos para conseguirem adormecer,  para que o sono lhes sussurre que são anjos e que a trinche

A essência dos dias.2

O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada.Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado.

A essência dos dias.4

Hoje de manhã, bem cedo, chego ao trabalho. Ligo o portátil. Arrumo a mochila. Ligo a máquina de café. De repente oiço um alarme. Um alarme com um som que nunca ouvi. Vou tirar café, mas o alarme não para. Será o portátil? Não! Será o meu telemóvel? Vou ver e é de facto o meu telemóvel. Leio no ecrã: "8h14. O tempo terminou!" Sento-me. Olho o rio pela janela. Espero que termine... São 8h30, a Antónia chegou e disse-me bom dia. Ainda cá estou! Falso alarme! Vou tirar café…