Avançar para o conteúdo principal

A noite encosta-se nas minhas costas como uma irmã que esteve ausente

A noite encosta-se nas minhas costas como uma irmã que esteve ausente,
e promete-me que a morte é apenas mais um movimento.

Ela deixa o meu corpo arder vagarosamente na luz que ainda persiste no mar,

e lembra-me que esta mesma luz que agora me extingue, é a mesma que iluminou o meu passado,
esta mesma chama que agora me arrefece, é aquela que me silenciou os medos, 
e o mar que me engole tem o mesmo sal que outrora me sarou.

A minha irmã impudente e ciosa, cobre-me com um manto pardo,

uma pele tecida de pecados e virtudes, áspera, perfumada e penosa,
uma mortalha que me consome o oxigénio no seu odor placentário e primordial.

Não sei se me entrega, se me devolve, ou me abandona.


A noite encostou-se nas minhas costas como uma irmã que esteve ausente,
e prometeu-me que a morte era apenas mais um movimento,
e os nossos dias um ciclo de Perseidas que não se extingue.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Oiço o carpir do tempo no meu encalce

Oiço o carpir do tempo no meu encalce, enquanto corro a iluminar os últimos quartos.

A essência dos dias.3

Caminham agarradas pelas mãos. De mãos dadas. Enormes na sua tenra idade. Juntas na multidão que sai do comboio. Caminhamos juntos! Sobem a rampa a espalhar esse amor. O seu amor! Paixão! O amor que lhes pertence. O amor que agora vemos. Elas, e eles, e nós todos visíveis. Vemo-nos! Iguais. Iguais a mim! Iguais para todos?...Talvez ainda não...plenamente...mas estamos tão perto! Bendito dia! Bendita manhã inundada de esperança e luz! Bendito final de setembro.  O Sol e a alma vibrantes, neste instante feliz plantado no horizonte.

Uns cegos, outros surdos

gritas, gritam até que o outro ensurdeça,  até que fique com os pés presos na lama e se esgote. gritas, gritam palavras e frases de uma ordem estéril que nos matará. rasgam os pulmões com cânticos, alucinados,  com uma narrativa estúpida de quem nos crê estúpidos...e seremos? rangem os dentes,  soltam os caninos e farejam a hesitação com o dedo no gatilho, lambem-nos o medo na pele... abrem as gargantas de onde saem línguas como canos apontados ao nosso cérebro,  línguas sibilantes num hálito de enxofre, numa infindável oratória que nos queima a pele, nos rompe a mente. destroem o silêncio. gritam que somos vítimas,  as suas vítimas,  as legítimas,  enquanto desviam o olhar e fecham as órbitas embaciadas para que a realidade não os capture. gritam, gritam e gritam pois enquanto gritam não param,  não pensam, não deixam que ninguém pare, e ninguém pensa. embalam os corações nas bandeiras e nos hinos para conseguirem adormecer,  para que o sono lhes sussurre que são anjos e que a trinche